A Rota do Chá no Brasil – o dia no Sítio Yamamaru
A Rota do Chá no Brasil. O que esse evento nos oferece a
cada ano? A oportunidade de conhecer e vivenciar a produção de chá no Brasil, ao
longo de três dias, em visitas a produtores da região de Registro, estado de
São Paulo.
Você pode se perguntar nesse momento: mas se todos os locais
visitados produzem chá, não seria repetir o programa a cada dia e ver o mesmo
universo?
Eu te respondo e, com certeza, todos que participaram da Rota do Chá te diriam o mesmo. Não, não são iguais, são três dias de
experiências únicas, totalmente diferentes entre si, que te proporcionam uma
incrível imersão às origens, à história e à produção do chá brasileiro.
A chegada ao Sítio Yamamaru
Depois da Amaya Chás, o segundo dia de visitas foi dedicado ao Sítio Yamamaru, situado no Vale da Ribeira, no Bairro da Raposa, no município de Sete Barras, vizinho a Registro. Aqui, nossa experiência não se deteve tão somente à produção do chá artesanal, e sim, conhecer também, a essência da família Yamamaru - o chá, o respeito aos antepassados e a origem nipônica da família.
Desde a chegada ao Sítio pela manhã até nossa
despedida ao entardecer, esse tripé esteve presente e integrado em todas as
atividades proporcionadas, pela família Yamamaru e comunidade local, aos
participantes da Rota do Chá.
Nossa recepção no Sítio foi ao som de uma apresentação de
Taiko, os tradicionais tambores japoneses utilizados em diversas cerimônias e
manifestações culturais no Japão e no mundo. Em meio à Mata Atlântica, no local
onde os Yamamaru iniciaram a sua trajetória no Brasil, dois Taiko nos davam
boas-vindas, conduzindo-nos, desde já, às origens da família.
Sítio Yamamaru, o chá em um sistema agroflorestal
Ao final da cerimônia, com o som dos tambores e da mata ainda
vibrando em nosso íntimo, fomos convidados ao primeiro chá do dia. Sim, porque ainda
haveria muitos outros, regados de surpresas e novidades.
No galpão aberto, em meio à mata, nos instalamos para ouvir
a apresentação inicial de Míriam Yamamaru sobre o Sítio. Ela e o imão Kazutoshi,
carinhosamente chamado de Kazu, são descendentes diretos de Mitsutoshi Yamamaru,
que junto com a família chegou ao Brasil em 1953 e, em 1956, se fixou em Sete
Barras, no núcleo da então Colônia de Imigrantes Japoneses de Registro.
Nessa época, assim como muitas outras famílias instaladas na
região, a família Yamamaru construiu sua casa e iniciou o plantio do chá em
meio à mata virgem. Ao longo de quase três décadas, foi ampliando o chazal, passando
por períodos de grande produção, e outros, de muita dificuldade com a queda do
chá no país, no início dos anos de 1990. Uma crise devastadora, que afetou a
todos na região e levou a família a arrendar parte da terra e abandonar a área
do chazal.
Em 2011, Kazu que havia se mudado para o Japão, retornou ao
Brasil e ao conhecer o Sistema Afroflorestal – SAF, trouxe a ideia para o Sítio,
implementando-a em 2013. Este foi o marco do retorno da família Yamamaru à
produção de chá.
E, em 2017, após a conclusão do curso de turismo e de um estágio
em processamento de chá no Japão, Míriam começou a introduzir no Sítio, não só
os conhecimentos adquiridos em processamento de chá como também o turismo.
Inicia-se, assim, uma nova fase do Sítio Yamamaru que, desde então, vem
apresentando inúmeros frutos deste trabalho.
A colheita do chá
Após as informações valiosas sobre o Sitio Yamamaru, partimos
para a tão esperada colheita dos brotos de chá. Caminhando até lá, por
uma pequena estrada, chegamos ao chazal literalmente em meio à Mata Atlântica. A partir daí, tudo o que ouvimos anteriormente na apresentação começou a fazer sentido.
A área dos arbustos de chá, resgatados dia a dia após o
período de abandono, se destacava formando uma “clareira de chá” em meio à mata
virgem e aos palmitos Juçara. Um convívio harmônico entre mata e produção,
preservados e cuidados, cada qual com a sua importância e valor.
Antes de entrarmos no chazal, passamos todos por um charmoso
portal - uma alusão ao “Torii” – o portão tradicional japonês que marca a
transição do mundano para o sagrado. Não preciso dizer que nessa hora, bate uma
emoção grande por estar ali, pedindo licença à natureza e ao chá para entrarmos no seu convívio.
Depois de uma breve explicação de como deveríamos colher
somente os brotos de chá, cada um recebeu uma cuia de bambu para guardar as pequenas
folhinhas e partiu para o campo.
De repente, em meio à colheita, me veio à memória, as cenas de
filmes (que eu já havia assistido) sobre as colheitas manuais em diferentes chazais
no mundo, normalmente realizadas por mulheres. Estas colhiam quilos e quilos de
folhas chá em poucas horas, com uma rapidez e destreza impressionantes. E, eu
ali, em mais de uma hora buscando os brotos certos, não consegui colher sequer
o volume de uma xícara.
Creio que esse foi um momento de consciência muito
importante para todos os participantes da Rota, pois o ato de colher as folhas nos
dá a real dimensão do valor deste trabalho na cadeia produtiva, visto que, em
todo o mundo, a produção do chá artesanal se inicia com a colheita totalmente
manual.
Voltando ao chazal, o que foi feito de todos os brotos
colhidos? Ah, os brotos que estavam mais adequados à confecção do chá foram
separados pela equipe organizadora da Rota do Chá; estes seriam a matéria prima
para a produção do chá da tarde. Agora me diga: colher o próprio chá não é razão para uma pontinha de orgulho?
A caminho do almoço
Terminada a seleção dos brotos: hora de caminharmos um pouco pela floresta ao longo da trilha que nos levaria ao refeitório. No trajeto, fomos
acompanhados por Mariuza Lindenberg, mais conhecida como Maru, amiga de Míriam que,
desde 2017, contribui com seus conhecimentos para a implantação de diversos
projetos no Sítio, em diferentes áreas, especialmente em relação ao turismo
rural, por meio da Maru Tours.
Chegamos ao refeitório - um pequeno galpão aberto, próximo
ao lago construído pela família Yamamaru. Lugar lindo, mágico! Todos famintos?
Com certeza. E o que nos esperava? Um pacu assado, pescado ali mesmo no lago, e
um delicioso bentô feito com ingredientes produzidos no sítio, acompanhado de
suco de palmito Juçara e chá. E olhe ... te digo aqui, sem querer rasgar
elogio, este foi o bentô mais saboroso que já comi. Tudo tão gostoso, delicado,
harmônico ... da embalagem ao sabor!
Depois desse almoço sem igual, regado de boa conversa, voltamos
ao local de chegada, onde teríamos a tarde dedicada ao processamento dos brotos,
com direito inclusive, a participar “com as mãos na massa” de todas as etapas
de produção do chá.
Aprendendo a fazer um chá artesanal
À tarde, o Sítio Yamamaru nos proporcionou um aprendizado e uma
vivência únicos: a oportunidade de exercitar, cada qual um pouquinho, os
procedimentos de cada fase da produção de um chá preto - murchamento,
enrolamento, oxidação, secagem e seleção.
Para tal empreitada, contamos com o suporte e a orientação de Míriam e sua equipe, e de Yuri Hayashi, da Escola de Chá Embahú e de Renata Acácia, da Infusorina, respectivamente, criadora e organizadora da Rota do Chá.
E, as surpresas não acabam aqui! Entre um processo e outro da confecção do chá,
tivemos o tradicional leilão dos chás da Rota, neste ano produzidos por Yuri
Hayashi e alunos da Escola de Chá Embahú; a degustação de tempura de folha de
chá, de brigadeiro de chá com polpa de Juçara, de “Madju” com Juçara, da cerveja
artesanal feita com chá preto Yamamaru; por fim, a tão esperada degustação do
chá colhido por todos nós, que sem falsa modéstia, ficou saboroso demais!!!!
Ao entardecer ...
Já no final da tarde, finalizando nossa visita ao Sítio
Yamamaru, tivemos a honra de conhecer três pontos importantes da comunidade do
bairro da Raposa: a associação, onde participamos de uma roda de dança ao som
do taiko, liderada por Míriam; a pequena igreja na qual gerações e gerações de
imigrantes e seus descendentes foram batizados e, por fim, ali nas
proximidades, a figueira centenária, majestosa, que se esconde em meio à mata, imponente
e linda.
Não haveria forma melhor para nos despedir de todos os que
estiveram conosco o dia inteiro - uma despedida regada de simbolismo, de reverência
às origens e de respeito à natureza.
Um dia que certamente ficará na memória de todos nós: pelo aprendizado sobre a produção do chá artesanal em um sistema agroflorestal e, especialmente, pela oportunidade de participar do universo Yamamaru – uma verdadeira lição de convivência harmoniosa e integrada, entre homem e natureza.
E, agora, emocionada só de lembrar desse dia, deixo
aqui a todos do Sítio Yamamaru, o meu e, com certeza, o nosso agradecimento pelos
momentos maravilhosos e inesquecíveis, proporcionados aos integrantes da Rota
do Chá.
Veja também os posts sobre a Rota do Chá:
A Rota do Chá no Brasil – o dia na Amaya Chás
E, em breve, publicaremos o post da terceira visita ao
Sítio Shimada. Aguardem!
A 8ª Rota do Chá em 2024 já tem data marcada. Vejam abaixo!
A próxima Rota do Chá – a 8ª. Edição – já está com data
marcada. Acontecerá nos dias 07 a 10 de novembro de 2024.
Não percam essa oportunidade única de participar deste
evento. Não há o que se arrepender, pois tudo é muito organizado, agradável e
extremamente enriquecedor. Digo de experiência própria, pois quando termina a
rota, dá vontade de começar tudo de novo!
E, muitos participantes realmente retornam no ano seguinte,
e no seguinte e no seguinte...
Veja no link Infusorina, as informações para a 8ª. Rota do Chá – a Rota do Chá Brasileiro e garanta logo a sua vaga.
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