Papai leva as crianças para vacinar
O domingo amanheceu lindo, ensolarado, perfeito. Depois de tantos fins de semana com chuva, um dia com sol é sempre um convite para passear, passear e passear. E era isso que Lola pensou ao acordar. Passear o dia inteiro com Davi e as crianças.
Acordou mais cedo do que de costume, para preparar o café da manhã e arrumar tudo o que precisava para o dia, porque haviam algumas coisas para fazer antes do passeio.
Lina teria que entregar um trabalho para o chefe que sairia de viagem naquela manhã, levando consigo o projeto para o cliente, e ainda para completar, era dia de campanha de vacinação infantil.
Ai, céus! pensou ela. Não teve tempo de combinar Davi. Ele esteve fora durante toda a semana, a trabalho, e havia chegado tarde na noite anterior. Mas Lola não se preocupava com isso. Poderiam dividir as tarefas como sempre faziam.
Aliás, ela nunca havia parado para pensar como isso
acontecia. Ao longo de tantos anos juntos, ela e Davi nunca dividiram
verbalmente as tarefas da casa e nem das crianças. Na maioria das vezes,
simplesmente acontecia. Aquele que estivesse mais disponível tomava a frente.
Em raras ocasiões, quando um dos dois detestava algum tipo
de tarefa, aí sim, poderia haver alguma negociação.
E este era o caso. Davi detestava levar as crianças ao
dentista, médico, consulta ou vacinação. Ele dizia que Lola tinha mais
paciência nessas horas.
Lola nunca pensou nesse assunto muito bem porque quando as
crianças se machucavam ou tinham algum mal estar, Davi era o primeiro a tomar
alguma atitude se estivesse por perto.
Bem, café na mesa, Lola acordou todos. Na mesa começaram a
fazer planos de qual seria o passeio do dia. Ir ao clube, nadar e tomar sol?
Diversão no parque com um piquenique? Andar de bicicleta e depois ir ao cinema?
Com o dia claro e aquele sol lindo, qualquer escolha era possível.
No meio do falatório sobre o que fazer, Lola interrompeu:—ei vocês! Aqui, só um pouco. Tem um probleminha pra gente resolver antes de qualquer coisa.
Foi um “ahhhhh” geral e Lola continuou: — tenho que entregar um trabalho agora cedo, porque meu chefe vai viajar e tem outra coisa importante antes do passeio: hoje é dia de vacinação das crianças.
— Ah, não mãe! As crianças começaram a reclamar e
reclamar, e Lina, a menorzinha de 5 anos, começou a ensaiar um choro. Elisa, a mais velha com 7 anos, aproveitou a situação e logo colocou uma
barganha.
— Mãe, eu já sabia, na escola já tinham avisado. Mas se
a gente se comportar direitinho, ganha sorvete depois? Daqueles bem grandes? — e olhou para a irmã como se estivesse dizendo
— “para de resmungar e diga que também quer”.
— Tá bom, combinado — disse Lola. — Agora, pra resolvermos isso
mais rápido, enquanto entrego o trabalho, seu pai leva vocês pra vacinar. Ok?
— Não mãe, com o papai não! Você sempre leva a gente — reclamou Lina, fazendo biquinho.
— É Lola, você sempre leva as meninas pra vacinar — concordou
Davi, meio sem energia, como se ainda não estivesse acordado.
— Mas sempre tem uma primeira vez. Eu vou para um lado com o
trabalho e você vai para o outro com as meninas; te encontro depois na
vacinação. Assim, economizamos tempo.
Davi tentou pensar em alguma alternativa, mas se sentia meio
estranho. Não estava conseguindo pensar rápido. Demorou tanto para dizer algo,
que ficou tarde para propor o contrário. Ele iria levar as crianças para
vacinar.
Todos no carro, Lola deixou Davi e as meninas no posto médico
e foi para o aeroporto com o trabalho na pasta. Não demorou voltar, porque no domingo,
o trânsito era tranquilo.
Parada na porta do posto de vacinação, Lola esperou. Já
estava pensando em descer do carro para ver se ainda estavam na fila, quando
viu as meninas correndo em direção ao carro.
— Cadê seu pai?
— Ele já está vindo — disse Elisa, entrando no carro com a
irmã.
Logo chegou Davi, num passo lento, desajeitado, meio estranho e entrou no carro, no lado do passageiro.— E aí? Todo mundo se comportou bem? Merece sorvete? — perguntou Lola alegre e animada.
— Simmmmm, menos o papai —Elisa logo respondeu com uma carinha de séria, olhando de rabicho para o pai.
— Porque o papai não?
Elisa hesitou um pouco, suspirou baixinho e disse:— ôoo mãe, nós ficamos direitinho na vacina, mas o papai
desmaiou!
Foto: Kimberly Farmer / Unsplash
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